segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Projeto de Processos (1)

Projeto de Processos foi a matéria mais parecida que fiz com um TCC quando cursei engenharia. Na época (1996), adotar TCC em todos os cursos era a febre do momento, e algo um tanto temerário para quem cursa engenharia e vai enfrentando matérias progressivamente acumuladas ao longo do curso.
Era uma matéria que juntaria conhecimentos de diversas outras disciplinas cursadas (Operações Unitárias I, II e III, Fenômenos de Transporte I, II e III, Termodinâmica I e II, Cálculo de Reatores...). Tinha potencial infinito para perrengues...

Mas antes, preciso contar a história de Paulo. Não, não era o nome real dele: evitemos problemas ainda maiores. Conheci Paulo em 1988 quando entrei no Pueri Domus. Paulo nunca foi meu colega de classe, sempre estivemos no mesmo ano em turmas separadas, até 1991 quando nos formamos no 2o grau. Ele era o melhor aluno de sua classe todo ano. Eu reinei em 88, 89 e 91, com os louros indo para Mariana (nome verdadeiro) em 90 na minha classe. Pelo menos é assim que me lembro de ter sido. Curiosamente os três, eu Paulo e Mariana, nos encontraríamos em 1992 na Engenharia Química da Poli. 
Era uma ótima coisa: quase todos estavam sozinhos no curso, tendo que fazer novas amizades (até para sobreviver aos trabalhos em grupo), enquanto nós 3 apenas podíamos fazer novas amizades. Fizemos, claro, mas eu me tornei mais próximo dele nos primeiros 2 meses de curso. 
Sim, durou pouco. O ponto é que o Paulo não se adaptou nada bem à mudança de ares. Politécnicos costumam ser os primeiros alunos de suas classes no 2o grau, e 60 primeiros alunos juntos não resultarão em 60 primeiros lugares: apenas um o será. A maioria leva isso numa boa, mas o Paulo estranhou o esquema. Começou a tirar notas baixas. Bem baixas. Não achei que ele fosse burro (vou questionar essa premissa em breve), apenas não ia bem.
Mas logo apresentou outros sintomas. Começou a mentir. Começou a esconder as notas baixas, como que tapando o sol com um prato de vidro. E ia mal em todas as matérias. Para resumir, foi o único que conseguiu reprovar em Cálculo 1.

Uma das matérias era Introdução a Informática (MAC-115). Aprendíamos básicos de programação. Fomos, em 92, a última turma a usar Pascal como linguagem. A matéria tinha provas e trabalhos, os exercícios-programa (EP). O primeiro EP era básico, contas simples, manipulação de strings, impressão formatada. Foi mole, eu já sabia essas paradas. Mas não para o Paulo. Às vésperas da entrega do primeiro EP, ele me liga:
- Mano, preciso de ajuda com o EP.
- O que rola ?
- Não rola. Não sei fazer essa parada. Tem como me ajudar?
Era para o dia seguinte...
- Cara, estou afundando em Mecânica. Mas eu posso te passar uma listagem velha e com problemas. Quem sabe te dá uma luz, mas já aviso que ela não roda inteira.
- Putz, valeu! Posso ir pegar na tua casa?
- Claro.
Veio em 10 minutos e agradeceu aos montes. Mal educado ele nunca foi.

Uma semana depois, minha nota não sai. Falo com o professor:
- Professor, cadê minha nota ?
- É que... puxa... é complicado.
- Descomplica. Pode falar.
- Você tirou 0.
- Hein ?!
- Por cola.
- HEIN ?!
- Norson, eu sei que você foi a fonte da cola e que vai passar na matéria. Você entende do assunto. Mas regras são regras e eu tive que de dar o 0.
- Mas quem colou ?
- É que é complicado.
- Descomplica.
- Foi o Paulo.
Meu chão caiu. Eu conhecia o cara há 4 anos. Não podia acreditar naquilo. Lembrei da listagem defeituosa e imaginei que ele redigitou tudo no computador para entregar sem mudar nada.
- Como vocês sabem que eu era a fonte, professor ?
- Então... lembra que tinha uma parte de somar os dígitos do seu número de matrícula? Ele entregou com o teu número. 
Agora sim meu chão caiu.

Ok. 
Mesmo bem mais imaturo na época (17 anos ainda) não guardei a menor raiva do professor. Juro. Mas sabia que aquele cidadão que eu pensei conhecer não era confiável e que precisaria de uma lição. E entregar a listagem com meu número de matrícula era burrice demais.
Tive que esperar o 5o ano, em 96. Em Projeto de Processos.

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