sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Venceu o Carnaval

Uns bons 15 anos atrás, não lembro o ano exato, um amigo corinthiano chamado Paulo se aproximou de mim no final de semana seguinte ao carnaval e soltou:
- Você viu? O Timão ganhou o Carnaval.
- Verdade. Mas o Tricolor vai ganhar a Páscoa e o Corpus Christi. 
- ...

Sim, o Paulo ficou sem palavras. Paulo percebeu que estava se gabando do fato de uma parcela (da qual ele não faz parte) de uma torcida uniformizada (da qual ele também não participa), do time de futebol que ele torce (embora ele não frequente estádios) havia vencido um concurso musical-decorativo, do qual ele também não participara ou assistira que ocorre uma vez ao ano em um feriado.
Desculpe amigo leitor, talvez o parágrafo acima tenha fica longo e confuso. Peço que releia. Vou até copiar e colar, usando negritos estratégicos para facilitar. Se necessário, leia duas vezes. Eu espero:
Paulo percebeu que estava se gabando do fato de uma parcela (da qual ele não faz parte) de uma torcida uniformizada (da qual ele também não participa), do time de futebol que ele torce (embora ele não frequente estádios) havia vencido um concurso musical-decorativo, do qual ele também não participara ou assistira, que ocorre uma vez ao ano em um feriado.

Entendeu? 
Nem eu...

Em todos os meus quase 40 anos, nunca o carnaval fez algum sentido na minha cabeça. Começa sendo o mais chato dos feriados pois, ao contrário dos outros, é impraticável viajar. As pessoas agem como se fossem o últimos dos feriados na face ("face" de rosto, não "feice" de "facebook") da Terra. Você chega lá, seja lá onde lá for, e tudo que se encontra é baderna, barulho, música ruim, gente fedida se acotovelando e fila até para lavar as mãos. Pouco importa se você escolheu a praia de Joaquina, Boqueirão, Campos dos Jordão ou Bodoquena do Oeste: dá no mesmo. 
Opto por não viajar, assim ao menos economizo combustível e o stress da estrada. Fica o stress da cidade. Não sei, parece que a população total do país triplica no carnaval. A cidade fica transitável, mas cinemas e lanchonetes lotam como se não houvesse amanhã. Claro, também tem-se que aguentar o mesmo tipo nojento de música, embora um pouco mais distante e talvez protegido pelas janelas de casa. Ocasionalmente, há desvios e bloqueios de tráfego, obviamente sem qualquer tipo de aviso ou sinalização. Se você quer passar por uma rua onde tem um bloco com pessoas pulando igual macaco com sarna, problema seu: invente uma rota alternativa e torça para não haver outro bloco nela.
Ah, claro, tem os desfiles das escolas de samba. Interessante saber que samba precisa de escola. Com milhões em dinheiro público, claro. Depois falam da Copa... Tenho adotado a prática de usar fotos nos posts, mas aqui eu me recuso. Mas o desfile precisa acontecer, e uma parte das pessoas precisa incomodar o vizinho, eu no caso, com isso. 
O tal desfile consiste em construir veículos totalmente inúteis para pessoas em geral inúteis ficaram no alto acenando ou dançando, dependendo da suposta habilidade no assunto, lá no alto. No chão, um casta inferior paga montanhas de dinheiro para usar fantasias ridículas para cantar por 40 minutos uma música sem o menor nexo de 40 segundos em loop. Ficam pulando de um lado para o outro, mas precisam caminhar de forma dita ordenada por uma pista reta construída para esse fim enquanto dezenas de milhares de bobos ficam em volta assistindo e cantando junto. Sim, os bobos em volta também pagam por isso. Um pouco menos bobos são os milhões que assistem de casa, pois pelo menos ficam no conforto do sofá sem pagar nem o ingresso e nem os R$ 10 por uma cerveja morna e choca. E o sujeito sequer percebe que o processo é o mesmo que o do show anual do Roberto Carlos: se transmitirem o VT do ano passado, ninguém nem percebe.
O fundo alegadamente cultural disso é um tipo de música insuportavelmente chato, incapaz de se renovar em um século, usando instrumentos musicais irritantes e barulhentos para gerar uma cacofonia incompreensível e desagradável. Claro que isso deve ser gritado (cantado não seria um termo adequado nem de longe) em locais públicos, para incomodar bastante (quanto mais incomodar, melhor), especialmente quem não gosta disso. O resultado não gera qualquer legado positivo em qualquer aspecto humano possível ou imaginável. E ainda falam da Copa.
Mas o incômodo fica. Ah, esse fica sim...

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Menos rótulos

Em participação a uma espécie de concurso cujo prêmio pouquíssimo me agrada, posto aqui o texto que para lá enviei. 
Apenas para dar um cenário ao amigo leitor, o colunista Leonardo Sakamoto divulgou aqui um concurso desafiando pessoas a construírem opiniões estruturadas sobre 3 de 10 assuntos, no mínimo, polêmicos. Optei por usar seis deles. Segue meu texto:

Embora não tenha opinião formada sobre este concurso, não podia concordar mais com Sakamoto sobre a incapacidade de interpretação de texto que contamina as pessoas. Tenho comentado isso com amigos e colegas.
A escolha de temas chamou a atenção com alguns deles. Noto que "Homem de bem", "Aborto", "Maioridade penal", "Amarrar no poste", "Gay tem que apanhar" e "Pena de morte" perfazem um grupo quase homogêneo. Ou não.
Em resumo, o homem de bem deve ser favorável à redução da maioridade penal, da pena de morte, de amarrar bandidos em postes, de agredir os gays tanto quanto ser contra o aborto. O homem de bem é reaça. 
O oponente do reaça é o esquerda de grife. Este deve, necessariamente, ser contra a redução da maioridade penal, pena de morte, homofobia e grupos de justiceiros, tanto quanto ser favorável ao aborto.
A ordem em que os descrevo é arbitrária: não pretendo dizer que um é consequência do outro, seja em termos temporais ou opinativos. Mas curioso é que tão logo manifeste uma dessas opiniões, o sujeito é imediatamente ligado às outras cinco antes mesmo que as manifeste. E quanto mais distante o opinante está dos demais (leia-se: está em um forum ou setor de comentários), mas fácil é essa rotulação.
Rotulação esta que não resiste à procura no meio físico. Olhe para seu lado direito ou esquerdo, no sentido geográfico e não político, e dificilmente você vai achar pessoas que se encontrem exatamente de um dos lados desse fla-flu ideológico ridículo que vemos na internet.
O ser humano real, aquele de carne e osso e não emails e rashtags, é muito mais complexo e sutil do que esses dois polos de perfis supostamente monolíticos. Não apenas é impraticável achar alguém que se enquadre no mesmo lado das seis opiniões que comento, mas mesmo cinco delas é altamente improvável. Eu mesmo estou no quatro a dois e não foram poucos os três a três que detectei. Não importam quais, ou não deveriam. Apenas digo que é hora de superarmos essa mania rotuladora improdutiva.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Esgotado ou não ?

O assunto me ocorreu ontem, e queria dividir a dúvida com o amigo leitor. Não se preocupem, pois a irritação que descreverei não é minha: os fatos não me afetaram. Estou apenas imaginando se afetaram alguém.
Em dezembro último, ouvi uma propaganda no rádio. O renomado e competentíssimo Yanni fará 3 shows em São Paulo, dias 21 a 23 de março próximos. Empolguei-me, o que raramente ocorre nesse tipo de programa cultural. Como a namorada embarca em (quase) qualquer canoa furada que eu sugiro, já propus de irmos a dois e fazermos uma noite especial.


Entrei no site e procurei opções de lugar para comprar os ingressos. Embora ainda houvesse para os 3 dias, o ginásio já se aproximava da lotação. Com alguma paciência, achei um par razoável de lugares e os capturei via cartão. Dias depois, os ingressos foram entregue em casa sem percalços. Agora aguardamos o show.
Pois eis que, ontem, ouço o anúncio de um show extra, no dia 20. Imaginei então alguma pessoa interessada no show que, ao não encontrar ingressos para os melhores lugares, acabou se contentando com um lugar mais humilde, ao lado deste blogueiro impertinente, por exemplo.
Daí surge um show extra, e o sujeito fica puto. "Por que eu comprei essa bosta de ingresso lá na casa do caralho de tão longe? O lugar é tão distante do palco que o show vai acabar 15min mais tarde para mim só por causa da propagação do som" diz o comprador insatisfeito.
Faz todo sentido, amigo leitor. O tal sujeito não comprou um ingresso melhor porque havia esgotado, e contentou-se com algo, para ele, meia boca. Ele teria pago 5x o preço que pagou para estar em um lugar melhor, que não existia. Mas agora existe e ele está frustrado.
Ok, isso não foi comigo. Eu vendi uma mesa, dois pares de tênis e um rim para comprar esses ingressos, parcelando em 12x. Mas nem por isso todo mundo precisa ser pobre do mesmo jeito. 
Não seria o caso de, antes de abrir para o público, oferecer um upgrade para quem já comprou? É viável, técnica e praticamente? Acho que deveria sim.
É ético abrir novos shows quando os primeiros esgotam suas lotações? Isso viola algum direito real ou percebido? Não me parece, mas pode ser. Se for, seria necessário algum tipo de controle externo para se evitar abusos? Certamente se isso virar algum tipo de direito legalmente estabelecido.
Pode ser um tema interessante para discussão futura.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Pagar com Visa é muito melhor

É bastante provável que todos os leitores deste blog conheçam a campanha "Pagar com Visa é muito melhor". Fico devendo videos desta vez, por estar escrevendo em local sem acesso ao Youtube para o caso de alguém ter acabado de chegar de Marte.
Falo da mesma Visa que é parceira oficial da FIFA:


Também não se trata de nenhum segredo, apenas coloquei o print do site oficial da referida entidade para ilustrar.
Mas ontem percebi uma coisa que realmente me surpreendeu. Depois de ficar sem ingresso nos dois sorteios de ingressos para a Copa, ocorreu-me que o método de pagamento poderia ser o culpado. Pesquisei, com ajuda do amigo Guilherme, e a tese se confirmou:
Todos os "sorteados" para compras de ingressos optaram por cartão Visa como método de pagamento. Todos.
Não significa que todos que tenham optado pelo cartão tenham sido sorteados, mas todos que optaram pelo boleto ficaram de fora. Todos.
A pesquisa não tem valor científico. A amostra, embora de tamanho razoável (umas 40 pessoas) não é bem equilibrada com forte desbalanço de perfil: todos paulistas, todos procurando fortemente jogos em São Paulo. Mas é suficiente para este blogueiro berrar aos quatro ventos e oito leitores constantes: fraude! Se a FIFA não queria optar pela método do boleto bancário como forma de pagamento, e nada neste mundo os obriga a a isso, deveria ser honesta com seus clientes e não disponibilizar essa opção. Mas esperar que a FIFA seja honesta é ser poliana demais.
E com isso dou mais um passo para longe do futebol. Neste momento está em cheque minha tradição de ver todos os jogos de uma Copa, coisa que tenho conseguido fazer desde 1994. 

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Sochi

Adoro esportes. O leitor deve estar de saco cheio de saber isso.
Adoro Olimpíadas. O leitor estava se livrando do saco cheio provocado por Londres-12 e eu volto a isso.
Jogos de Inverno não ficam de fora disso. Ok, agora talvez eu tenha sua atenção. Então mandemos um edredon para Zeus e falemos um pouco.



O maior barato desses eventos é ver os esportes com os quais temos pouco contato. E nos Jogos de Inverno, são todos.
Verdade é que temos algum contato com o hockey, cortesia da ESPN transmitindo NHL. Não é difícil de entender: dois times, duas traves, um disco. Patinação de velocidade remete ao atletismo, com peculiaridades de não se estar, necessariamente, disputando contra o sujeito que divide a pista contigo.
Claro, tem aqueles esportes que não são esportes. Patinação artística, piruetas com snowboard ou ski... não trato como esporte o que necessita de notas para apurar um vencedor. Pode até ser plasticamente agradável, mas não é esporte.
Claro que preciso falar do bobsled e similares. Aprendi um tanto sobre eles este ano. O sujeito não pode ser muito normal para deitar numa prancha e descer uma rampa semiaberta a mais de 130km/h. Divertido.
Combinado nórdico impressiona pela carga de esforço necessária. E provas por equipe, com 45min, são definidas em décimos. 
Fecho com meu preferido, o curling. Também chamado de xadrez do gelo, é aquele esporte estranho com uma chaleira e rodos, buscando posicionar a primeira com ajuda dos segundos. 
Lembrou ?
Por fim, se nada disso te convenceu, tento uma última vez. Afinal, por serem jogos de inverno, há maciça presença de... nórdicas. Ou algo assim.
  • bronze
 
foto: Eve Muirhead, 23 aninhos, minha preferida em Vancouver-10
Capitã do Curling da Grã-Bretanha (bronze)



  • prata



  • foto: Jennifer Jones, 39 anos, medalha de ouro

    Capitã do Curling do Canadá (ouro)

    • ouro


    foto: Torah Bright, 27 anos, australiana

    Snowboard (prata)

    Isso porque nem achei fotos das que não venceram nada. E nem tem russas na lista, o que prova que a lista está incompleta. E, piada pronta, estaria a bela Eve falando do namorado naquela foto?

    ---

    Complemento de postagem.
    Escrevi este post durante a semana de deixei programado para o sábado. Eis que acordo (são 9h05 do dia 22/fev/14) e o 9gag atravessou minha ideia. E como eles tem mais tempo e são pagos para isso, podem fazer melhor. Numa, pois deixaram tanto a Eve quanto a Jennifer de fora. Novatos !
    Segue o link deles.




    sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

    Carga Tributária e Inflação

    Lá vou eu me meter a falar de economia novamente. O que pode dar errado? Vamos aos necessários avisos e disclaimers para um assunto tão... emociogênese:
    1) Os dados da carga tributária variam cretinamente de acordo com a fonte pesquisada. Para garantir o erro desde estudo, misturei dados de fontes diferentes. Uma várzea, portanto. Ainda assim, não me parecem estar muito díspares da realidade.
    2) Para os dados de inflação, usei o IPC da FIPE. Não por confiar mais ou menos, mas foi o que eu achei primeiro.
    3) Para os anos, usei o Calendário Gregoriano mesmo.
    4) Parei a série em 2009 por falta de saco de achar mais dados. Eles estão aí para quem quiser.
    5) Usei linhas de tendência lineares, que são a coisa menos realista que existe, mas são simples de entender.
    6) Deixei os gráficos estourarem os limites da borda para melhor visualização.
    7) Qualquer menção a partidos políticos ou governantes nos comentários será sumariamente deletada desta vez. O tema é teórico. Peço que respeitem.

    Muito se fala da elevada carga tributária no Brasil. Mais do que "elevada", o ponto seria "em elevação". Ao compararmos com outros países similares ao nosso, como Uzbequistão, Congo ou Belize, nossa carga tributária é ridiculamente alta. O dobro, para simplificar. Ao compararmos com países sérios, como Finlândia, França ou Faroe (fineza fazer feijão farofa e fitas...) pode-se notar que até existem cargas maiores, mas o nível dos serviços públicos é de envergonhar. Não quero chover no molhado, então vou me concentrar mais no fato da carga estar em elevação. Vamos entender a tendência.
    Primeiro de tudo, gráfico básico:



    A linha reta, mais fina é a tendência linear. Não preciso falar muito, certo?
    Vamos mudar de pato para ganso, e falar de inflação (acalmem-se: vou chegar ao ponto). Inflação é o fenômeno da perda do poder de compra da moeda. Como consequência, e não causa, os preços dos bens e serviços aumenta. Conhecemos bem o fenômeno.
    A origem da inflação é governamental, sempre. Acontece quando o governo, ao não ter uma correta política monetária, permite que o valor da moeda desvalorize frente a economia real (física, material). De modo simplista (e nem por isso menos realista), é o que ocorre quando o governo emite moeda para cobrir suas contas. Sim, mesmo se sabendo que isso causa inflação muitos governos fizeram e ainda fazem isso.
    Tudo bem até aqui? Vamos juntar os dados, então. Segue um gráfico, para o mesmo período, de carga tributária e inflação. O eixo vertical a esquerda é o da inflação e o da direita o da carga tributária.



    Hum... Então à medida em que a carga tributária cresceu, a inflação foi sendo contida. Ou seria o contrário? Interessante, não? De todo modo, para que não haja dúvidas, vamos inverter o eixo da carga, fazendo o valor maior ficar embaixo. Aproveitei para manipuladoramente ajustar um pouco as escalas.



    Agora sim. Vemos uma potencial correlação. Mas existe relação para além da correlação?
    Entro no terreno especulativo. Quando um governo é incapaz de fechar suas contas, emite moeda de modo direto ou indireto. Como visto acima, isso causa inflação. Mas como esse cálculo se fecha? Se não existe almoço grátis, e nenhuma ciência se preocupa com isso mais do que a Economia, para onde vai essa fatura?
    Vai para todos. A população, consumidores e empresários, é quem paga a conta. Em movimentos inflacionários muito fortes, alguns indivíduos ou empresas conseguem pegar carona no caos e também se beneficiam disso. Mas o conceito é que a inflação por emissão de moeda é uma espécie de imposto desregulado, perigoso, nocivo e altamente elitista, na medida em que as classes menos favorecidas são as que tem menores condições intelectuais e prática de se defenderem da inflação.
    Então, amigo leitor, chego às minhas conclusões:
    1) A carga tributária efetiva sempre foi alta no meu entender. Apenas acontecia de estar sendo coberta em parte relevante com a transferência de renda causada pela inflação.
    2) A troca de modelo de sustentação financeira governamental de inflação (em parte) para impostos faz a carga tributária mudar radicalmente de perfil, atingindo menos os pobres (que têm pouca defesa contra a inflação) e mais os ricos (que tem pouca defesa contra os impostos). Isso gera uma percepção de aumento significativo da carga.
    Minhas conclusões não excluem a possibilidade de aumento real da carga total no período. Trato mais da mudança de perfil aqui. Também não trato da questão de eficiência estatal, vergonhosa desde... desde sempre.



    quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

    Justiceiros

    Nestas últimas duas semanas, explodiram os casos de bandidos e suspeitos que foram capturados por pessoas comuns (por "comuns" entenda-se "não são agentes do poder público) pelo país. O primeiro caso desta onda foi no Rio.


    Seguem links de alguns outros casos:

    Pronto: estou feliz de conseguir espalhar geograficamente os links por todo o país. E, como já sabemos do hábito que temos em dicotomizar todos os assuntos, já temos as duas torcidas com argumentos prontos e altamente batidos e inócuos:
    - "Tem que prender mesmo: se a polícia não faz nada, deixa que a gente resolve."
    - "O cidadão tem o direito de se defender."
    - "Bandido bom é bandido morto."
    Ou...
    - "É um absurdo, eles são vítimas do sistema."
    - "Coitadinho dele, isso não se faz. Todos devem ter acesso a direitos humanos, não apenas alguns."
    - "Justiça feita com as próprias mãos não é justiça."

    Bláááá para todos vocês. Publico aqui algo muito mais equilibrado. 
    Contardo acerta no ponto de que, sim, o Estado falhou. Não consegue prover oportunidades a esses sujeitos que eventualmente se tornam criminosos, nem tampouco é capaz de lidar com eles quando isso acontece. O mesmo estado que não deu educação, saúde e condições para que ele arrumasse um emprego também não o prende, julga e condena. 
    O argumento do bandido social convence cada vez menos. Nos últimos 30 anos tivemos uma sensível redução na desigualdade social e uma sensível elevação na criminalidade. Os esquerdinhas de grife ficam loucos quando digo isso. Também houve, no mesmo período, sensível (sim, vou repetir o adjetivo, contrariando todas as normas de redação e estilo, para que ninguém fique... sensível... e me acuse de parcialidade) aumento nos efetivos policiais e nas vagas de presídio, mas isso também não redundou em uma queda na criminalidade. Hora dos reaças se ofenderem.
    Volto ao ponto do Contardo. Precisamos consertar o Estado, e todos os níveis e aspectos. Uma coisa não adianta sem a outra. Educação sem segurança gera professores com medo de ensinar e perpetua o modelo. Segurança sem educação é mais óbvio de ver o erro, nem por isso é erro maior.

    ---

    Complemento de postagem:
    O referido menor citado no caso inicial foi detido novamente hoje (21/fev/2014). Segue link.




    quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

    Menos que uma Fuinha Morta

    Quando meu celular Motorola Defy se mostrou um lixo, tomei a decisão de trocar. Isso foi em setembro do ano passado. Obviamente eu não iria para a Motorola novamente. Apple também não é opção, até que eles terminem (e não há perspectivas disso) uma série de políticas que muito prejudicam o consumidor como obsolescência programada, restrição de acesso à bateria e afins. A Nokia, que tem um lugar especial no meu coração, está perdida e o momento do BlackBerry já passou. A dona da bola é a Samsung com o S4.
    A qualidade do aparelho nunca entrou em discussão, mas a assistência dos coreanos já me deixou na mão algumas vezes. Relato:
    Tive um gravador de DVD de mesa. Se você não sabe o que é isso, pense no video cassete e entenda que ele faz a mesma coisa, com DVD em vez de fita. Fazia, até quebrar...
    Levei na assistência técnica autorizada que fica no Campo Belo. Deixei o aparelho lá, depois de esperar 2h para ser atendido e aguardei o retorno. Dias depois, me ligaram avisando que não sabiam qual era o problema, o mesmo que eu relatei ao fazer a entrada da OS. Mais dois dias, e me ligam dizendo que não foi encontrado nenhum defeito e que eu poderia retirar o aparelho. 
    No sábado seguinte, afinal os caras fecham em horário impossível de ir para quem trabalha, passei mais 1h40 de fila para o atendente me dizer que acharam o problema no fechamento do aparelho. Muita raiva.
    Na semana seguinte, terça-feira, ligam novamente perguntando qual era o problema. Juro, amigo leitor. Expliquei de novo e, na quinta-feira, confirmam que o aparelho estava pronto. Você notou que não teve uma fase de aprovação de orçamento? Pois é...
    Lá fui eu sábado buscar a peça. Estava funcionando e não me cobraram nada. Vai entender...
    De todo modo, não importa: seis meses depois quebrou de novo, e de vez. Busquei outras autorizadas e todas me deram a mesma informação: a peça não é mais fabricada.


    Você confia em uma assistência técnica dessas? Nem eu.
    Mas no fim, acabei comprando sim o S4. E, claro, acabou de dar problema. Alguma coisa relacionada à bateria ou ao sensor de carga. O bichinho meio que perde o sinal da carga, desliga e não consegue ligar novamente. Com uma mísera carga de 3 minutos ele acha a carga e volta a ligar. Desde de, claro, você tenha como dar essa carga de 3 minutos. Sentado no vagão do metrô não rola...
    Levei na assistência dia 12 último. Pediram 3 a 7 dias úteis de prazo. Estava indo tudo bem até o burro agudo aqui avisar que o aparelho é importado. Devia ter ficado quieto. Começou a burocracia: queriam que eu levasse a nota fiscal, a mesma que ninguém informa que você precisa levar. Pedi para abrirem a OS, e eu ficaria obrigado a levar a nota fiscal para retirar: não podia. Não entendo MESMO esses "procedimentos". No fim, venci de modo peculiar: ao explicar que comprei o bichinho pela Amazon e que tudo que eu faria em casa era acessar o site, consegui acessar ali mesmo e imprimimos o pedido. A conclusão foi que não apenas eu sou o comprador legítimo do aparelho, como ele ainda está na garantia. E, como tal, tenho direito a receber o aparelho consertado em casa, sem custo. Lindo.
    Daí eles erram de novo, pois sempre tem espaço: a atendente me avisa que pode ser necessária uma limpeza de memória. Até entendo, mas é tão custoso assim eles mesmos gerarem um backup do aparelho antes de arrumar?
    Passada uma semana, achei que era hora de ligar. Não que tivesse passado o prazo, mas fiquei curioso. Pra que?
    Pela manhã, ninguém atendia. Na hora do almoço, mesmo problema, mas desta vez eu tinha 30 minutos. Foram umas 10-12 ligações: toca e ninguém atende. Fui para o site nesse meio tempo, e acho o atendimento via chat: não completa o ciclo para abrir a conversa. Ainda no site, um link para você pedir informações sobre aparelhos em assistência: o sistema requer um cadastro que não tem como ser completado.
    Comecei a variar o número ligado, para escapar de um possível PABX com problemas. Fui tentando os finais 01, 02... No 09 alguém atende, para meu susto. A moça era da Samsung mesmo e disse que me transferiria para o setor. Pergunto pelo ramal, para evitar perder a ligação, e eram os números 01 a 06. Ou seja, eu liguei para todos e ninguém me atendeu



    Só então a coisa andou. Consegui falar com uma moça que afirmou que meu aparelho foi enviado ontem (18/fev) para minha casa. Passou o código de rastreamento do correio e, segundo este, foi entregue em casa hoje. A conferir.
    Tecnicamente, os caras são bons. Ao menos parecem ser. Mas se comunicam menos que uma fuinha morta.

    terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

    O Imbecil do Dia

    O texto refere-se a reportagem de ontem, no UOL. O imbecil do dia é Marcelle Souza. A pérola está aqui.
    Marcelle critica o fato de um aluno da Poli-USP receber o dobro dos investimentos per capita de um aluno da USP-Leste. Minha filha, poderia ser o quíntuplo, ou metade, isto por si só não quer dizer absolutamente nada
    Você já parou para imaginar a diferença de estruturas necessárias nos diferentes cursos? O amigo leitor também pode fazer esta reflexão. São laboratórios, equipamentos de alta complexidade, técnicos de laboratório e materiais de consumo que cursos de humanidades não necessitam. Essas diferenças são inerentes das diferentes áreas de estudo. 

    foto: sala de aula na USP Leste

    O ranço contra as ciências exatas é tal, que a criatura não se deu ao trabalho de estudar os dados a Faculdade de Medicina, que este blogueiro, mesmo sem acesso aos números, tem a coragem de dizer que tem um custo per capita ainda maior que a Politécnica. Não seria surpresa: os cursos particulares de medicina são os mais caros do país por alguma razão. Segue link sobre o assunto. Destaque para a Faculdade de Medicina São Leopoldo, em Campinas: R$ 6.880, de acordo com o blog, por mês.

    foto: laboratório na Poli

    Marcelle ainda erra em outro ponto: a idade muito diferente das estruturas. A USP-Leste é jovem, ainda em formação. Pode ter em seu orçamento despesas de investimentos iniciais ainda em fase de amortização e pagamento. Não sei. Se estudada, esta diferença pode ser ainda maior, e ela nem sabe.
    A jornaleira resume-se a criticar os problemas estruturais que, de fato, existem lá. Faz com razão e superficialidade, a ponto de não se preocupar se os mesmo problemas ocorrem na Poli. Ocorrem sim, que eu sei. Não surpreende em nenhum dos aspectos (ter razão e superficialidade) e só isso que lhe tira da nota zero pela matéria. Mas que é dita cuja é incapaz de uma análise mais profunda de número, é. 
    Curiosamente, isso se deve à própria falta de investimentos em educação que ela mesma denuncia.

    segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

    Porque eu parei

    Por que eu parei de acompanhar futebol ?
    Bem, embora eu tenha citado isso diversas vezes, é porque não tenho mais paciência para as arbitragens. No clássico de ontem no Rio, o Vasco foi prejudicado por um gol não marcado. Segue link. Por facilidade, coloco o frame do lance:


    A bola entrou. Não há muito o que se discutir sobre isso. Entrou por muito: eu diria uns 60 a 80cm. Mas o que me deixa maluco é o cidadão vestido de amarelo e preto acima na foto: sua função é única e exclusivamente dizer se a bola entrou ou não. O sujeito não está distraído, olhando para o lado, pensando na conta do celular ou olhando para a bunda da cheerleader: ele claramente está olhando o lance. No video, ele não faz qualquer esboço de indicar o gol cruzmaltino.

    Cansei entendem?

    sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

    Orgulho

    Li outro dia sobre 12 de fevereiro ser o Dia o Orgulho Ateu. Junta-se ao orgulho nerd, orgulho gay, orgulho pagão, orgulho branco e tantos outros.
    Tento entender. Orgulho é o sentimento que se tem por ter/ser/conseguir/apoiar/participar de/[ponha verbo aqui] algo. Intrigo-me.
    O problema de minha compreensão é a gama de significados atingidos pelo tal sentimento. Vejo pouca relação entre ter orgulho de sua opção sexual, de sua cor de pele e de sua opção de entretenimento. 
    A segunda não tem qualquer controle daquele que se orgulha. O sujeito ser branco, preto, azul, verde ou lilás está nos genes dele. Poderia nem gostar de ser o que é, mas gosta. E ao fazer questão de mostrar que gosta, temos o tal orgulho. Em algumas das cores, é considerado bonito, em outras, até crime é. Curioso pensar quem é o oprimido e quem é o opressor, mas isso fica para outro post.
    Então vamos outro extremo da escala, o cultural. Apeguemo-nos ao nerd. Aqui temos um misto de preferências culturais, estilo de vida, tipo de carreira e até matérias preferidas da escola. Preferidas, hein? Tudo aqui é produto de escolhas, portanto. O sujeito gosta de matemática, gosta de programação, gosta de Star Trek e gosta de trabalhar sério e compenetrado. Ok, pode ser física, engenharia e Star Wars: o resultado em termos de perfil de grupo é marginalmente o mesmo. Adoro dizer "marginalmente" para que todos saibam que fiz, e passei, em Cálculo. Já me agrupei. Já mostrei meu orgulho pelas minhas escolhas.
    Agora juntemos os dois orgulhos aqui dissecados com a precisão linguística de uma machado e o cuidado psicossocial de hipopótamo gripado e vemos que ambos são incompatíveis em origem e geram um resultado final, o tal orgulho, com um mecanismo bastante parecido.
    Ora não se pode começar uma receita com farinha e outra com grãos achando-se que ambas resultarão em sopas. Se resultam, algo está errado no que se chama de sopa. E daí entra minha crítica ao orgulho, pior quando organizado e oficializado.
    Se for para o orgulho por opção sexual, algo que apesar do nome não está claramente definido como geneticamente determinado ou como individualmente escolhido, e a mixórdia alcance valores planetários.

    Não vejo sentido no sujeito sentir orgulho de nada. Problema meu se passei em Cálculo III, com o professor Diniz, sem fazer "rec". Problema meu se sei a regra do "par-e-ímpar de Star Trek". Problema meu se trabalho tão focado que pode cair um asteróide do meu lado e tudo que eu faço é reclamar da ocasional vibração na mesa. Já estou com vergonha, nada marginal, do que escrevi aí em cima.
    Fazer questão de mostrar seu orgulho pelo assunto que for só ajuda a criar barreiras entre as pessoas. Os que estão dentro ficam mais dentro, mas os que estão fora sentem-se excluídos da panelinha, e isso gera sentimentos negativos como inveja, raiva e vingança. O que de bom tem nisso?
    Fiquei sem entender.

    quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

    De Volta para o Presente

    Título clichê, sem dúvida alguma. Mas tive um mês semelhante ao de um aposentado: em casa, recebendo, mas sem sair muito porque boa parte do tempo tinha alguma coisa doendo.
    Ontem tive minha perícia do INSS. A dita cuja foi marcada pela empresa, e para lá me dirigi no horário indicado. 
    Cheguei 10h47, para marcação das 11h00. A primeira impressão foi negativa. Local bastante cheio, uma boa fila de 15 pessoas para serem atendidas na triagem e outras 20 no segundo balcão, que nada mais parecia do que uma "segunda triagem" (o termo "segunda triagem" me dá náuseas). 
    Passei pela triagem e recebi a senha #J0292, e fui avisado de que não passaria pela segunda, indo direto para local de chamada. Lá, um painel indicava o número mais recente chamado: J0181.
    Fodeu. Mais de cem pessoas na minha frente. E olhando em volta, tinha fácil mais gente do que isso por ali.
    Porém a verdade foi outra. Antes de 11h45 já tinha saído de lá. Nenhum assombro, portanto. Informações claras e diretas. Pessoas educadas. A numeração não tem nada de sequencial, o que explica o fato de eu já ter saído de lá 28 horas depois. A conclusão foi que estou apto para o trabalho, para retorno imediato. 
    Cá estou.

    Hoje fui revendo os colegas. Ritual repetitivo:
    - Olá.
    - Olá.
    - Estava de férias ?
    - Não. Licença
    - O que você teve ?
    - Hérnia Inguinal Direita.
    - O que é isso ?
    - Putz. Dói ?
    "Só quando perguntam" - penso em responder.
    - Não é tranquilo. Deixa eu ir nessa.
    - Até mais.
    - Até.
    - Olá ! Estava de férias ?
    ...

    Dias até setembro: 200.


    domingo, 9 de fevereiro de 2014

    Nascar 201

    Mudou.
    Amigo leitor, o regulamento da Nascar para este ano mudou, tornando obsoleto o que eu relatei aqui. Bem... as corridas são as mesmas, mas a regra que define o título está bastante diferente para 2014. Vamos a elas.
    Permanece o Chase for the Cup, que agora começa com 16 pilotos em vez dos 12 do regulamento e 13 de 2013 devido à confusão que a equipe de Michael Waltrip causou. Para se classificar para o Chase, o primeiro critério é o número de vitórias. Quando sobrarem vagas, o que não é matematicamente certo, mas historicamente garantido, elas serão preenchidas pela pontuação. Aqui já surge um erro sério. É altamente improvável que tenhamos 16 ou mais vencedores nas primeiras 26 corridas. Assim, o cidadão que vencer em Daytona, dia 23/fev muito provavelmente estará no Chase, podendo cozinhar o galo por 25 provas. Caso vença duas provas, qualquer piloto estará matematicamente classificado para o Chase, o que poderia acontecer em março. Na prática, deveremos ter 5 a 8 pilotos completamente desinteressados durante 6 a 10 corridas. Péssimo.



    No Chase, os 16 pilotos competem em uma fase de 3 corridas. Classificam-se para a fase seguinte os vencedores de corridas (até 3, portanto), e completam-se 12 vagas por pontuação. A segunda fase repete a primeira, classificando apenas 8. A terceira fase repete as duas anteriores, classificando apenas 4. E esses 4 cidadãos disputam o título na prova final: quem chegar na frente entre eles é o campeão.
    Novamente, uma antiga cobrança minha para várias categorias de automobilismo não foi contemplada: acho que o sujeito só pode ser campeão tendo ao menos uma vitória. O mesmo regulamento acima poderia exigir isso: se o sujeito chegar a Homestead (prova final) sem vitórias, deveria vencer para ser campeão. 
    Mas o pior é essa mudança de valores. Claro que as provas finais de cada fase (26a, 29a, 32a e 35a) trarão um desespero pela vitória. Um piloto com péssimos resultados anteriores, mas que vencer essas provas-chave se classifica para a respectiva fase seguinte. Passou a ser, então, um campeonato de sobrevivência. E a luta pela sobrevivência pode deixar o ser humano agressivo. Não gosto disso.


    Achei um erro, dos grandes. A temporada vai dizer se estou certo ou errado.

    terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

    Doze passos sem Sair do Lugar

    Amigo leitor, em um post de uma amiga, foi divulgada a ideia de se evitar a "nova" novela da Globo, que se iniciou, pelo que entendi, ontem. O articulista, Gean Ramos, parece ter descoberto agora que as novelas são todas iguais. Eu descobri aos 8 anos...
    Ok, desculpe, Gean. Não quis ofender (e acho que ofendi) no parágrafo anterior. Na verdade, seu texto é sim muito bom e muito útil. De verdade, eu divulguei para algumas pessoas e deixei o link aí em cima. 
    De todo modo, isso foi passado no facebook pela amiga Heloísa e gerou alguns comentários. Uma amiga dela postou feliz que não viu o primeiro capítulo e estava livre do vício. 


     Fui entrar na brincadeira e dizer que não se livra assim do vício, e fui postar os famosos 12 Passos dos Alcoólicos Anônimos. Nunca os tinha lido, então uma pesquisa rápida me levou a eles:
    1. Admitimos que éramos impotentes perante o álcool – que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas.
    2. Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade.
    3. Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos.
    4. Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.
    5. Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas.
    6. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.
    7. Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.
    8. Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados.
    9. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem.
    10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.
    11. Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade.
    12. Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a esses Passos, procuramos transmitir essa mensagem aos alcoólicos e praticar esses princípios em todas as nossas atividades.
    E assim acabou meu bom humor, logo no passo 2. Trocar a bebida por religião ?! Ah, façam-me o favor...


    O leitor teísta vai bater orgulhoso no peito e dizer: "que lindo, isso é deus tirando a pessoa do vício". Depois eu pergunto quem foi que colocou, então... Mesmo o leitor ateu de viés utilitarista vai achar isso positivo. Dirá algo como "ele trocou um vício que fazia mal ao corpo e à mente por outro que faz só à mente: é um ganho portanto.". 
    Discordo. É como amputar a perna da pessoa para salvar sua vida, quando um tratamento mais complexo, caro e doloroso salvaria igualmente sua vida sem perder a perna em questão. Acho um enorme prejuízo em termos sociais, portanto: prolifera essa mentira.
    Acrescento, com maior tom de acidez, que há premeditação nisso. O dependente químico é uma pessoa que possuiu tendência, mental e/ou fisiológica, para se apegar fortemente a hábitos e condições. Por isso viciou-se. É o exato padrão da pessoa que se torna um fanático religioso. E vai lá o diacho do carola e lhe oferece justamente uma Bíblia, sabendo que o sujeito só precisa tocar naquilo para se viciar. Daí a vítima para de gastar com a pinga para gastar no dízimo, e temos o mais carneirinho dos fiéis. Perde a Ypioca para ganhar a Universal.
    Para não ser totalmente ranzinza, vou postar o que achei aqui:
    1. Aceitamos o fato de que nossos esforços em parar de beber falharam.
    2. Acreditamos que devemos nos voltar para outros em busca de ajuda.
    3. Voltamos-nos a nossos pares, homens e mulheres, em especial àqueles que lutaram contra o mesmo problema.
    4. Fizemos uma lista das situações nas quais estamos mais propensos a beber.
    5. Pedimos ajuda a nossos amigos para evitar estas situações.
    6. Estamos prontos para aceitar a ajuda que eles nos dão.
    7. Sinceramente esperamos que eles nos ajudem.
    8. Fizemos uma lista das pessoas a quem tínhamos prejudicado e com as quais esperamos reparar os danos.
    9. Faremos o que for preciso para repará-las, de qualquer forma que não cause mais prejuízo.
    10. Continuaremos a fazer esta lista e a revisá-la sempre que necessário.
    11. Estimamos o que nossos amigos fizeram e estão fazendo para nos ajudar.
    12. Em troca, nos prontificamos a ajudar outros que nos procurarem da mesma maneira.


     Mas continua me enfurecendo a mania teísta de se meter em todos os assuntos.

    segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

    Superbowl XLVIII

    Para minha tristeza parcial, o time do apito amigo, Seatle Seahawks, venceu ontem seu primeiro Superbowl. O massacre de 43-8 sobre o Denver Broncos foi tamanho que eles sequer precisaram da ajuda dos juízes desta vez: vi o jogo todo e o resultado foi bem limpo.
    Fato é que os Broncos não entraram em campo. Não fizeram nada, não ofereceram a menor resistência. Curiosamente, Payton Manning, o quarterback de Denver, bateu ontem o recorde de passes completados em um Superbowl: 34. Sim, é uma marca ofensiva positiva, mas que mostra que números sozinhos não mostram o resultado do jogo.
    Manning, por sinal, ganhou na véspera o prêmio de melhor jogador do ano pela 5a vez. Mas não consegue transformar suas temporadas em títulos: tem apenas um anel. A derrota não diminui o brilho de sua carreira, mas deixa claro que não está no mesmo patamar de John Montana ou Jerry Rice. Quem viu o Superbowl XXIV sabe do que eu estou falando.


    O típico complexo de inferioridade do jornalismo brasileiro se fez presente. O time de Seatle tinha um jogador brasileiro, e 650% da atenção devida foi despendida ao tema. Breno Giacomeli é tão brasileiro que pediu para ser entrevistado em inglês ao final do jogo. Longe deste blogueiro criticar o jogador, critico apenas os que o criticam: deixem o cara em paz.
    Por fim, uma estatística que me foi pedida ontem: nunca o Superbowl foi sequer disputado pelo time da casa. O mais perto disso foi o Superbowl XIX, vencido pelo 49ers em um estádio a 25 milhas (40km) de sua casa. Que este tabu se quebre em 2016.

    domingo, 2 de fevereiro de 2014

    Risco percebido

    Não é assunto novo, amigo leitor, mas retornou ao meu radar hoje.
    Risco é uma palavra complicada, com variadas definições de acordo com a área empregada. No mercado financeiro é a variabilidade do retorno de um investimento. Em auditoria, é a probabilidade de uma coisa dar errado. E por aí vamos. Pessoalmente, eu prefiro: "é a probabilidade de uma coisa dar errado multiplicada pelo dano causado quando essa coisa der errado". 
    Pense na rifa de R$ 2 da sua sobrinha, valendo um jogo de facas Tramontina. São 1000 rifas e você vai comprar uma. A chance de você perder essa rifa é de 99,9%. Elevadíssima, portanto. Mas qual é o prejuízo envolvido? R$ 2. Na minha calculadora, isso é um risco baixo. Na de muita gente também, o que explica a existência de loterias e similares, como a rifa da sua sobrinha.
    Pense em furar um farol vermelho em alta velocidade. Na realidade, se você tem um carro bom e dirige bem, as chances de efetivamente causar uma colisão não são tão altas assim. Eu diria estão abaixo de 30%, pois há como desviar, os outros carros podem parar para o maluco (você) passar e por aí vai. Mas... e se der errado? Bem, se der errado temos uma colisão forte, com risco de vida para muita gente envolvida, inclusive você. O seguro pode não querer pagar seu carro e o do terceiro, alegando risco agravado. Isso explica porque as pessoas, em geral, não fazem isso.
    Daí chego ao estopim deste artigo: medo de tubarões. Segue o link.
    O argumento é que temos enorme medo de tubarões. Eu sou um desses, admito. Relembro a forte cobertura da mídia em cada caso que acontece, bem como a contribuição do Sr. Spielberg. 


    O link comenta algumas coisas muito, muuuuuito mais perigosas do que tubarões. Segundo ele, há 5 mortes anuais por ataques de tubarão, contra, por exemplo, 550 nas compras da Black Friday. Mesmo que o primeiro esteja subestimado em um fator 10 e o segundo superestimado em um fator 10, a Black Friday ainda seria algo mais perigoso. No entanto, as pessoas não tem muito medo dela, nem de texting, asfixia autoerótica e cair da cama durante o sono, apenas para citar coisas da lista.
    Eu acrescento os meteoros.



    Fonte de inspiração de tantos filmes, os meteoros vindos do espaço inspiraram estes e outros filmes. Mas você, leitor, sabia que até hoje não há registro de uma única morte de pessoas por queda de meteoros na Terra?
    Nem na Rússia ?
    Nem na Rússia. Quase 1500 feridos, em um impacto 20 vezes mais energético que a bomba de Hiroshima, e nem assim morreu alguma pessoa.
    Temos ainda o estudo de Steven Lewitt, que mostra que, para uma dada distância fixa para termos de comparação, é 5 vezes mais perigoso caminhar a pé bêbado do que dirigir esse mesmo percurso bêbado. (Superfreakonomics, 1a edição)
    E agora, amigo leitor, você ainda tem medo de tubarão?