sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Lista Negra: Frans Café

Homenageio minha irmã Alessandra (Alezinha para o íntimos) que faz aniversário hoje com esta postagem.

Não gosto de café. Direito meu, constitucionalmente assegurado. Também não vejo graça em café (local, não bebida). Tem um ar de frescura e falso estilo pedante. E o Frans Café é um dos campeões nesse quesito. Ainda assim, era plausível eu ir até lá tomar um suco. Até 1994*.
Estávamos em turma viajando. Era algo épico: um monte de moleques pós-adolescentes fazendo bagunça sem ninguém para dar puxões de orelha, durante uma semana. O local escolhido para a destruição foi Curitiba.
Um dos dias, resolvemos passear pelo centro. Embora próximo da virada de ano, era dia útil e a cidade tinha um considerável movimento. No meio da tarde, alguém veio com a ideia que se provaria "de jerico": 
- Vamos ao Frans Café? Tem um ali.
Não queria ir. Fui voto único vencido. Ainda assim, comportei-me bem: conversei o tempo todo, não fiz careta, não criei caso. Apenas recusei pedir qualquer coisa que fosse. Quem errou foi minha irmã. Ela pediu um pão de batata com catupiry
Éramos em mais de 10 (11 ?) pessoas. Foi um pedido grande entre comes e bebes, verdade seja dita. Alguns momentos depois, a garçonete voltou com a bandeja cheia e entregou os pedidos das pessoas. Era metade do que havíamos pedido, mas era apenas uma das viagens. Outros momentos e ela retorna, com outra bandeja. Entregou os pedidos e deveria ter completado o atendimento. Mas faltou o pão de batata com catupiry da minha irmã. Acidentes acontecem, e minha irmã avisou:
- Moça, faltou meu pão de batata com catupiry. 
- Ah... Ok, eu já trago.
E demorou. Estávamos no andar de cima, com pouca visibilidade para outros clientes e até para os garçons. Nenhum deles passava por ali regularmente. E todos comeram seus pedidos e Alezinha apenas observava, com crescente chateação.
Um outro garçom, homem, subiu para ver como estávamos. As pessoas começaram com seus segundos pedidos e Alezinha reforçou o primeiro:
- Moço, ainda está faltando meu pão de batata com catupiry que eu já tinha pedido. 
- Ok.
Ele vai embora. Volta momentos depois com todos os segundos pedidos, mas sem o fatídico pão de batata com catupiry. A chateação virou, não sem motivos, irritação. 
- Caramba, onde está meu pão de batata com catupiry?!
- Ah... eu vou ver lá embaixo.
E muito tempo se passou. Coisa de 20 minutos. O mesmo garçom sobe, com total amnésia, e pergunta se queríamos mais alguma coisa. Minha irmã pula na frente para responder.
- Talvez. Quem sabe aquele pão de batata com catupiry que você ainda não me trouxe?
- Nossa, é mesmo! Desculpa moça. 
Ele anotou outros segundos e até alguns terceiros pedidos. Retornou momentos depois com uma bandeja cheia e um olhar preocupado.
- Moça, desculpe. Estamos sem o pão de batata com catupiry. 
- E vocês só me falam isso agora?!
- Desculpe...
- Me traga um pão de batata simples.
- Ok.
Ele desce e sobe novamente em menos de dois minutos. 
- Ai, moça... é que na verdade, o que acabou foi o pão de batata. Então não tem, com ou sem catupiry. 
- Que saco isso! Faça assim: me traga um pão-de-queijo.
Foi uma boa sacada da Alezinha. De fato, ela tinha sido a única a pedir pão de batata, mas tinha rolado uns bons 4-6 pães-de-queijo naquela mesa. O garçom desce e sobe novamente, bem rápido, com o pedido dela. Todos de saco cheio da situação e querendo ir embora (exceto eu, que nem queria ter entrado, mas estava entretido pelo caso). O namorado dela, André, aproveitou a entrega do pão de queijo e fez um pedido adicional final: pão-de-queijo com catupiry. O garçom desce.
Em momentos, vem outro garçom, diferente dos dois primeiros, trazer o pedido dele, para o nosso gran finale. Ele traz uma bandeja com o pedido do André e diz:
- Olha, moço... O pão de queijo acabou, desculpe. Eu lhe trouxe um pão de batata com catupiry

Ficamos incrédulos. Um misto de compaixão com riso estava estampado no rosto de cada um. Todos dirigiam olhares para Alezinha, que escolheu as palavras com muita sabedoria, ainda que na frente desse terceiro garçom:
- É o seguinte: se alguém aqui nesta mesa pagar os 10% de gorjeta, vai ter que se entender comigo.
Eu achei que era hora de ajudar e disse:
- Ok. Deixa que eu confiro a grana. Alê, deixa tua parte e espera lá fora. O pessoal foi pagando e saindo o mais rápido possível. Alguém tentou deixar um extra, e não era por questão de troco, mas eu impedi. Não era certo com ela.
Não tocamos no assunto pelo resto do dia. Eu saí de l[á com um ar vencedor, de quem não tinha gasto um centavo naquela espelunca, e tinha avisado antes que não era uma boa ideia. E assim, os caras entram na minha lista negra.

* posso ter errado a data. Um informação mais cientificamente correta seria 1995±1. 

2 comentários:

  1. Quase tudo está perfeito. Só tem um detalhe: o meu pão de queijo não veio tb e o garçon de número N (já não sei mais qtos foram naquele dia) foi super gentil dizendo "moça, o pão de queijo acabou, então eu te trouxe esse pão de batata com catupiry pq acho mais gostoso". Não foi pro André o pão de batata, foi pra mim mesma. Confesso que pensei em jogar na cara do moço, mas esse garçon N não tinha culpa. Fiquei bastante tempo sem querer ir A qualquer Franz Café. Mas hoje já passou a raiva.

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    1. Ok, correções aceitas. Podia jurar que o pão final era para ele...

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